

Uma exposição de cartazes, fotos, livros, revistas, imagens que fazem parte do acervo do Cineclube Araucária, conta a história da cinematografia brasileira, desde as primeiras realizações dos pioneiros no áudio visual no país, até as mais recentes produções que revolucionaram a linguagem do cinema brasileiro nos primeiros anos do terceiro milênio. A mostra que tem curadoria de Cervantes Sobrinho estará aberta à visitação pública na sede da AmeCampos de 2 a 31 de julho, de segunda a sexta de 10 às 18 horas. A AmeCampos fica na Rua Dr. Reid nº 68 Abernéssia.
BREVE HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO
Caso alguém pergunte, num futuro
distante, qual terá sido o meio de expressão de maior impacto na era moderna, a
resposta será unânime: o cinematógrafo. Inventado em 1895 pelos irmãos Lumière
para fins científicos, o cinema revelou-se peça fundamental do imaginário
coletivo do século XX, seja como fonte de entretenimento, seja como meio de
divulgação cultural de todos os povos do globo.
Pouco tempo após a sua invenção, o cinematógrafo
aportou no Brasil pelas mãos de Affonso Segretto, imigrante italiano que filmou
cenas do porto do Rio de Janeiro. Desta forma, em 1898, Segretto se tornou o
nosso primeiro cineasta. A partir daí, um imenso mercado de laser e cultura foi montado na capital federal no início do século XX, quando centenas de pequenos
filmes foram produzidos e exibidos para plateias urbanas em franco
desenvolvimento.
Até o final dos anos 1920, algumas experiências
arrojadas documentam a existência de uma cinematografia brasileira,
especialmente pela iniciativa de pioneiros como Adalberto Kemeny e Rudolf
Lustig que criaram a Rex Lustig, primeiro laboratório importante para a
produção de filmes comerciais no Brasil. Dele saiu o clássico “São Paulo, a
Symphonia da Metrópole”, baseado no filme “Berlim, Sinfonia de uma Metrópole”,
realizado pelo alemão Walter Ruttmann em 1927.

Nos anos 30 iniciou-se a era do cinema falado. Já
então, o ainda embrionário cinema nacional concorre com o forte esquema de
distribuição norte-americano, disputa que se estende até os nossos dias. Desse
período destacam-se Adhemar Gonzaga, Mário Peixoto, Alberto Cavalcante e o
mineiro de Cataguazes, Humberto Mauro, autor de “Ganga Bruta” (1933), filme que
marca a transição no Brasil, do cinema mudo para o cinema falado e que mostra
uma crescente sofisticação da linguagem cinematográfica.
Com equipamentos e técnicas revolucionárias
trazidas principalmente dos Estados Unidos, a Cinédia, empresa criada por
Adhemar Gonzaga no início da década de 30 e que sobrevive até hoje, mais de 80
anos depois, graças ao emprenho e dedicação de Alice Gonzaga, filha do seu
idealizador, introduziu na cena cinematográfica brasileira as comédias musicais com populares cantores
do rádio e atores do teatro de revista. Filmes como “Alô, Alô Brasil” (1935) e
Alô, Alô Carnaval” (1936) caíram no gosto popular revelando verdadeiros mitos
do cinema brasileiro como Carmen Miranda, Dircinha Batista e as Irmãs Pagãs.

A criação dos estúdios Vera Cruz por Franco Zampari
e Francisco Matarazzo Sobrinho, no final da década de 40, representou a
materialização do desejo de diretores que, influenciados pelo requinte das
produções estrangeiras, sobretudo europeias, buscavam fórmulas mais
sofisticadas para as produções nacionais. Da Vera Cruz saíram verdadeiras obras
primas da história do cinema brasileiro: “Caiçara” (1950) e “Tico-Tico no Fubá”
(1952), de Adolfo Celi; “Angela” (1951), de Abílio Pereira de Almeida e Tom
Payne; “Apassionata” (1952), de Fernando do Barros; “Sinha Moça” (1953), de Tom
Payne; “Floradas na Serra” (1953), de Luciano Salce e “O Cangaceiro” (1953), de
Lima Barreto que trouxe do Festival de Cannes naquele ano, o prêmio de Melhor
Filme de Aventura.
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A reação ao cinema da Vera Cruz representou o
movimento que divulgou o cinema nacional conhecido em todo o mundo como o
Cinema Novo. No início da década de 60, a exemplo do que aconteceu com a
Nouvelle Vague na França, um grupo de jovens cineastas começou a realizar uma
série de filmes imbuídos de forte temática psicossocial. Entre eles destacou-se
Glauber Rocha, cineasta baiano que entrou para a história como verdadeiro
símbolo do Cinema Novo. Diretor de filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”
(1964) e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1968), Rocha se tornou
uma figura lendária no meio cultural brasileiro, redigindo manifestos e artigos
na imprensa, rejeitando o cinema popular das chanchadas e defendendo uma arte
que promovesse a transformação social e política tão pretendida em tempos de
regime militar. Inspirados em Nelson Pereira dos Santos que em 1955, sob
influência do movimento neorrealista, dirigira “Rio 40 Graus” e o clássico
“Vidas Secas” em 1964, diretores como Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade
e Ruy Guerra participaram dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo,
ganhando notoriedade e reconhecimento.

As décadas seguintes revelaram-se a época de ouro
do cinema brasileiro. Mesmo após o golpe militar de 1964, os idealizadores do
Cinema Novo e uma nova geração de cineastas conhecida como “udigrudi” (termo
irônico derivado do “underground” norte-americano) continuaram a produzir obras
críticas em relação à realidade que vivia o país, muitas vezes usando metáforas
para burlar a censura dos governos militares. Dessa época, destacam-se o
próprio Glauber Rocha com “Terra em Transe” (1968), Rogério Sganzerla com “O
Bandido da Luz Vermelha” (1968) e Júlio Bressane com “Matou a Família e Foi ao
Cinema” (1969).

A fim de organizar o mercado cinematográfico e
conquistar a simpatia de intelectuais para o regime, em 1974, o governo Geisel
criou a Embrafilme que teria papel importante no cinema brasileiro até a sua
extinção em 1990. Desse período datam alguns dos maiores sucessos de público e
crítica da produção nacional, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), de
Bruno Barreto e “Pixote, A Lei do Mais Fraco” (1980), de Hector Babenco. O fim
da ditadura militar e da censura, em 1985, aumentou a liberdade de expressão e
indicou novos caminhos para o cinema brasileiro. No entanto, essa perspectiva
foi interrompida com o fim da Embrafilme em 1990. O governo Collor e sua
política neoliberal de extinção das estatais abriu o mercado de forma
descontrolada para as produções estrangeiras, norte-americanas em sua quase
totalidade. Com isso, a produção nacional entrou em colapso. Nos anos
seguintes, pouquíssimos longas metragens nacionais foram realizados e exibidos.

Após o cataclismo do início dos anos 90, o sistema
se reergueu gradativamente com a criação de novos mecanismos de financiamento
por meio da chamada renúncia fiscal (leis de incentivo), juntamente com o
surgimento de novas instâncias governamentais de apoio ao cinema. Trata-se da
fase de retomada do cinema brasileiro. Em muito pouco tempo, três filmes são
indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: “O Quatrilho” (1995), de Fábio
Barreto; “O Que é Isso, Companheiro” (1997), de Bruno Barreto e “Central do
Brasil” (1998), de Walter Salles, também vencedor do Urso de Ouro no Festival
de Berlim. Nomes como Walter Salles e Carla Camurati, diretora de “Carlota
Joaquina, Princesa do Brazil” (1995) tornaram-se conhecidos do grande público,
atraindo milhões de espectadores para as salas de exibição.

Mais de cem anos após os Irmãos Lumière, o cinema
brasileiro reinventa seu papel na história da maior arte do século XX, para
levar ao mundo no início deste terceiro milênio a sua contribuição em grande
estilo com produções que concorrem em pé de igualdade com as de outros países
tão criativos quanto o nosso. Não são poucos os grandes filmes
Made in Brasil nestes primeiros tempos
do século XXI: “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund; “Estomago”
(2007), de Marcos Jorge; “Dzi Croquettes” (2009), de Tatiana Issa e Raphael
Alvarez; “Lixo Extraordinário” (2010), de João Jardim, Lucy Walker e Karen
Harley; “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha” (2010), de Helena
Ignez e Ícaro Martins; “Heleno” (2011), de José Henrique Fonseca; “Corações
Sujos” (2011), de Vicente Amorim; “Xingu” (2012), de Cao Hamburger; “Entre Nós”
(2013) de Paulo Morelli e Pedro Morelli; “Olho Nu” (2013), de Joel Pizzini;
“Tatuagem” (2013), de Hilton Lacerda...
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