No dia 30 de novembro, o Cine Literatura presta homenagem ao escritor alagoano Graciliano Ramos, morto em 1953, sobre quem certa vez declarou Jorge Amado: "Ante a justeza, a correção da língua portuguesa por ele escrita, nós, os outros ficcionistas do Nordeste, somos uns bárbaros". Faz, pois, 60 anos que partiu o Velho Graça, como o tratavam carinhosamente os colegas, testemunhas da curiosa trajetória literária de quem se pusera entre os poucos nomes, da sua geração, com a grandeza e a importância de Machado de Assis. Se dele tivéssemos recebido apenas "Vidas Secas" já estaríamos no lucro. Mas, vieram também, entre outros, "Angústia", "Caetés", "São Bernardo", "Memórias de um Negro", "Viagem", "Linhas Tortas", "Viventes das Alagoas", "Garranchos", "Minsk", "A Terra dos Meninos Pelados", "Histórias de Alexandre", "O Estribo de Prata", "Dois Dedos", "Brandão entre o Mar e o Amor" e "Memórias do Cárcere", o mais importante relato que já se produziu sobre o violento Estado Novo de Getúlio Vargas, além das "Cartas de Amor a Heloísa", publicadas apenas no começo da década de oitenta e a tradução de "A Peste", um dos mais conhecidos romances de Albert Camus. Homem digno e autêntico, coerente até nas contradições, é o que foi
Graciliano Ramos, cidadão que, apesar de se dizer ateu, tinha a Bíblia como leitura predileta e que detestava
vizinhos mas adorava crianças. Confessava-se indiferente à música e à academia
e esperava morrer aos 57 anos de idade. Viveu mais três, para legar ao Brasil e
ao povo brasileiro, como disse Nelson Werneck Sodré, “um dos mais altos
exemplos de honestidade literária que nos foi dado conhecer”.

