Philomena abre o baú do passado sombrio da igreja católica na Irlanda
O Cineclube Araucária exibe neste mês de maio, na Sala de Saraus da AMECampos, a emocionante adaptação para o cinema de uma história real vivida na Irlanda durante mais de 50 anos pela hoje septuagenária enfermeira aposentada Philomena Lee.
Baseado
numa impressionante história real, ocorrida na Irlanda dos anos 1950, Philomena, filme do inglês Stephen
Frears, acompanha o calvário de Philomena Lee (Judi Dench, indicada ao Oscar de
melhor atriz), uma enfermeira aposentada que procura pelo filho, Anthony. O
menino lhe foi arrancado, ainda pequeno, quando ela vivia internada num
convento - destino das moças que, como ela, engravidavam fora do casamento e
eram abandonadas pelas famílias. Seus filhos eram encaminhados para adoção, em
troca de polpudas doações para o convento e elas trabalhavam por anos em regime
servil, até pagarem sua "dívida" com as freiras que as acolhiam e
também exploravam.
Philomena
é ajudada em sua busca pelo jornalista Martin Sixmith (o comediante Steve
Coogan, coprodutor e corroteirista do filme), que a princípio, a contragosto
entra na parada. Cínico, ateu e ex-poderoso jornalista político, ele está num
momento frágil na vida profissional. Não tem, portanto, nenhuma afinidade
evidente com Philomena, que ele conhece já em seus 70 anos, 50 anos depois do
sumiço do filho. Uma mulher simples, mas nada simplória, que apesar de tudo que
sofreu não perdeu a fé católica.
Por
interesse jornalístico, com intenção de vender a impressionante história de
Philomena para uma revista, Martin acaba mergulhado numa jornada de detetive,
que inclui uma viagem aos Estados Unidos em busca das pistas do pequeno Anthony
– rebatizado Michael por sua família adotiva. O
filme teve quatro indicações para o Oscar 2014: Melhor Atriz (Judi Mench),
Melhor Filme, Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro Adaptado. Mas, a
consagração, de fato, foi dada pelo público que lotou as salas de cinema em
quase todo o mundo, superando em três vezes o orçamento do filme apenas com a
bilheteria da semana de lançamento nos Estados Unidos.
Philomena traz novamente à
tona os crimes cometidos em conventos católicos irlandeses. O trabalho literalmente
escravo dessas moças, pobres abandonadas pelas famílias por moralismo, já havia
sido abordado anteriormente em 2002, no filme Em nome de Deus, de Peter Mullan.
Que a Igreja Católica
vive outros tempos fica evidente também pela recente audiência, concedida pelo
Papa Francisco, à verdadeira Philomena Lee, ao lado de Steve Coogan, em
fevereiro deste ano. Philomena continua lutando para que outras mulheres tenham
acesso aos registros de adoção de seus filhos na Irlanda e possam
reencontrá-los.
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A verdadeira Philomena Lee ao lado da atriz Judi Denchassista o trailer oficial do filme Philomena, de Stephen Frears com Judi Dench e Steve Coogan |