Abrindo
a série Memória do Cinema Paulista, durante o mês de julho, o Cineclube
Araucária, em parceria com a Associação do Amigos de Campos do Jordão –
AmeCampos, presta homenagem ao cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti.
Cultuado por cinéfilos do mundo todo pela importância de suas realizações na
França, Espanha, Reino Unido, Áustria, Itália, Portugal e Brasil, Cavalcanti
foi considerado por Glauber Rocha como o mentor do novo cinema nacional. Esta
iniciativa do Cineclube Araucária, realizada com o apoio do Programa de Ação
Cultural do Governo do estado de São Paulo – ProAC, inclui uma exposição de
cartazes, fotos, ilustrações e painéis com textos explicativos, que começa
nesta sexta, dia 3 de julho de 2015, às 19h30, na sede da AmeCampos – Rua Dr.
Reid, 68 – Vila Abernéssia, com a exibição do filme Simão, o Caolho, de
Alberto Cavalcanti, rodado nos estúdios da Companhia Cinematográfica Maristela
localizados no Bairro do Jaçanã em São Paulo, em 1952. A exposição permanecerá
aberta ao público, com entrada franca, durante todo o mês de julho, das 10 às
17 horas, de segunda a sexta. O evento faz parte do projeto Cineclube Araucária
– O Poder do Cinema em Campos do Jordão.
Alberto de Almeida Cavalcanti nasceu
no Rio de Janeiro, no dia 6 de fevereiro de 1897. Em 1908, entrou para o
Colégio Militar de onde saiu para a Faculdade de Direito da Escola Politécnica.
Alí conheceu o dramaturgo Roberto Gomes. Foi quando nasceu o seu amor pelo
Teatro, seguido do entusiasmo pelo Cinema. No entanto, um incidente com o
professor de Filosofia do Direito, Nerval de Gouveia, fez com que seu pai o
mandasse estudar na Europa. Em 1914, Cavalcanti chegou à Suíça e se matriculou
na escola Técnica de Friburgo, escolhendo o curso preparatório de Arquitetura.
Ainda no mesmo ano foi aprovado no exame de admissão para a Escola de
Belas-Artes de Genebra. Diplomado, resolveu ir para Paris onde passou a
frequentar as aulas de Deglane na escola de Belas-Artes e depois o curso de
estética de Victor Basch na Sorbonne. Em seguida, obteve emprego no escritório
do urbanista Alfred Agache que, mais tarde, se ocuparia de projetos de
modernização do Rio de Janeiro. Após ter trabalhado dois anos com Agache,
transferiu-se para uma firma de decoração, a Compagnie des Arts Français.
Passado
algum tempo, tentou ser representante dessa e de outras empresas no Brasil,
abrindo um escritório da Rua do Ouvidor. Projetou cenários para o cinema
experimental francês na década de 20. Em 1926, Cavalcanti estreou como diretor
de cinema em Le Train sans Yeux. Os dois filmes subsequentes, En
Rade e Rien que les Heures,
incluídos, pela crítica especializada, na lista dos mais importantes filmes do
movimento vanguardista francês, firmaram-lhe a reputação. Sucederam-se mais
alguns trabalhos e, com o advento do cinema falado, foi contratado pela
Paramount.

Nos anos trinta seus filmes mais conhecidos no Brasil foram a versão
portuguesa do filme americano Sarah and Son (1930), que aqui recebeu o título A Canção do Berço e O Tio da América / Le Truc du Brésilien
(1932). Em 1934, mudou-se para a Inglaterra onde realizou os
melhores filmes de sua carreira na Europa. Entre eles estão: Quarenta e Oito Horas / Went the Day Well (1942), Champagne Charlie
para a TV em 1944), Na Solidão da Noite /
Dead of Night (1945), The Life and
Adventures of Nicholas Nickleby (1943), They
Made Me a Fugitive ((1947), The First
Gentleman (1947) e For Them That
Trespass (1948).

Em 1949, convidado por Assis Chateaubriand e Pietro
Maria Bardi para proferir uma série de conferências no Seminário de Cinema do
Museu de Arte de São Paulo, Cavalcanti voltou ao Brasil e acabou assumindo o
cargo de Produtor Geral da Companhia Cinematográfica Vera Cruz em São Bernardo
do Campo. Nela, produziu três importantes filmes: Caiçara (1950), Terra É
Sempre Terra (1951) e Ângela
(1951), além de três documentários. No entanto, por conta de desentendimentos
com Franco Zampari, Cavalcanti se desligou da Vera Cruz em 1951. “Tentei
organizar uma estrutura realmente profissional e séria, mas sofri críticas e
perseguições de toda sorte, até mesmo com absurda conotação política”, lamentou
Cavalcanti para os jornalistas na época. Apesar das incompreensões, a passagem
de Alberto Cavalcanti pela empresa de Franco Zampari, muito contribuiu para o
desenvolvimento do cinema nacional.
No mesmo ano em que se desligou da Vera Cruz, se
ocupou da elaboração do projeto de criação do Instituto Nacional de Cinema.
Convidado por Mario Audrá Junior, proprietário da
Cinematográfica Maristela em São Paulo (SP), Alberto Cavalcanti passou a fazer
parte do quadro de colaboradores da empresa. Nos estúdios do Jaçanã, em São
Paulo, Cavalcanti dirigiu um dos mais emblemáticos trabalhos de sua carreira no
Brasil: Simão, o Caolho (1952). Depois
vieram O Canto do Mar (1953) e Mulher de Verdade (1954). Em seguida,
Cavalcanti foi convidado para trabalhar na TV Record como diretor de teatro,
chagando a dirigir a atriz Madalena Nicol na peça Electra de Sófocles.
Em
dezembro de 1954, voltou para a Europa a convite de um estúdio austríaco de
cinema e só retornou ao Brasil em 1969 como membro do júri do Festival
Internacional do Filme no Rio de Janeiro. Em 1970, deu aula no Film Studio
Center de Cambridge, Massachussets e recebeu, em 1972, a American Medal for
Superior Artistic Achievement. Só retornaria de novo ao Brasil em 1976, quando
conseguiu realizar a antologia Um Homem e
o Cinema. Naquela oportunidade foi agraciado com o troféu Coruja de Ouro-Personalidade. No ano
seguinte, o British Film Institute homenageou-o com uma retrospectiva.
No dia 23 de agosto de 1982, aos 85 anos de idade,
Alberto Cavalcanti faleceu em uma clínica da Rue de Passy em Paris, após sofrer
uma crise cardíaca.
Na sua
longa trajetória artística, de 1923 a 1978, o brasileiro Alberto Cavalcanti
foi, na verdade, uma personalidade do Cinema Mundial.